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A palavra pampa veio do idioma Quéchua- Idioma de origem indígena- e significa " terra plana".
Uma das principais características dos pampas é justamente a paisagem formada por planícies,
ocupando 65% do território Gaúcho.
Foto Gabriela Santos |
Com a chegada de 2018 e aproveitando a ideia de renovação, como em todo o início de ano, resolvemos mudar nossas saídas mensais, que normalmente se restringia as regiões dos vales do Rio Pardo e Taquari, e assim ampliando nossos horizontes. E nada mais justo do que retribuirmos uma visita feita pelo nosso amigo Caio Belleza a nossa região ano passado. O local escolhido foi a região da fronteira com o Uruguai, nos municípios de Bagé e Aceguá, onde horizontes ampliados são uma constante na paisagem local.
E com o plano em mente, pegamos a estrada rumo a famosa Bagé, o que era novidade pra mim e muitos do grupo. Saímos do Vale do Taquari por volta de 3:00h da manhã de sábado 13/01/18. Meu irmão André, eu e minha mulher Gabriela em um carro, o Astor, Morci e Cleberton em outro. Chegamos ao local combinado, Pousada Chácara das Rosas, por volta das 7:40h, um pouco antes do horário combinado que era 8:00h, aguardamos o anfitrião Caio que chegou logo em seguida. Já na sede da pousada, sem delongas, nos encaminhamos ao banhado, e se iniciava aí a observação com o avistamento de várias espécies que apreciam aquele tipo de ambiente, como um casal de Príncipe (
Pyrocephalus rubinus) que alimentava seu filhote, outro casal, desta vez de Cochicho (
Anumbius annumbi), Andorinha do Campo (
Progne tapera) entre outros. Passamos algumas porteiras até chegarmos ao local, um extenso banhado onde várias espécies nos presentearia com sua presença. Inclusive um Graxaim do Campo! Que permitiu a todos uma grande aproximação, sem se incomodar muito. E depois de feita a seção de fotos a esse incrível Mamífero, voltamos a atenção aos tão ou mais incríveis e sensacionais multicoloridos seres alados.
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O Graxaim ou Sorro é um mamífero carnívoro da família dos Canídeos,
encontrado nos campos úmidos do sul do Brasil, no Paraguai no norte da Argentina e no Uruguai,
sendo conhecido como Zorro de las pampas nestes três últimos países.
Nome cientifico: Lycalopex gymnocercus
Foto Alexandre Picoli |
Depois de pouco tempo no banhado, surge ao longe aquela pequena criatura por cima das arvores retorcidas que formam aquele ambiente. E mesmo naquela distancia já se percebia sua extrema beleza. Caboclinho de Chapéu Cinzento (
Sporophila cinnamomea)! Deu um show! Cantarolava e se exibia para o grupo. Eu particularmente gosto demais dos Sporophilas, família de aves com uma grande diversidade de espécies, que possuem coloração de uma beleza intensa e que habitam campos secos ou úmidos, como no caso. Neste mesmo banhado observamos várias outras espécies como o Tio Tio (
Phacellodomus striaticollis), Arredio do Gravatá (
Limnoctites rectirostris), Coleiro do Brejo (
Sporophila collaris) e Tico Tico do Campo (
Ammodramus humeralis).
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Coleiro-do-Brejo Foto Astor Gabriel |
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Local onde foi observado Caboclinho-de-Chapéu-Cinzento Foto Gabriela Santos |
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Tio-Tio Foto Cleberton Bianchini |
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Arredio-do-Gravatá Foto Cleberton Bianchini |
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Caboclinho-de-Chapéu-Cinzento Foto Alexandre Picoli |
Retornamos, e já na pousada observávamos outras espécies enquanto conhecíamos a mesma. Fomos apresentados ao casal donos da propriedade, sogro e sogra do Caio e também a Pomba do Orvalho (
Patagioenas maculosa), que se deixou observar no auto de um eucalipto, junto a um macho de Pintassilgo (
Spinus magellanicus).
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Pintassilgo Foto Astor Gabriel |
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Pomba-do-Orvalho Foto André Picoli
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Com o cronograma já apresentado pelo anfitrião, nos dirigimos então a Aceguá. Município este, onde fica a fronteira do Brasil com o Uruguai, elevando assim, nossa saída do Coa Vales, que até então era regional, a uma saída internacional. Almoçamos do lado brasileiro, e para fugir do calor intenso que fazia, fomos as compras em um free-shop. Depois de uns 30 minutos, voltamos ao que realmente interessava, que era as aves. Já que o dólar tava muito caro.
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Coa Vales passou a ser internacional a partir deste dia. Aceguá/Uruguai Foto Gabriela Santos |
Seguimos em direção ao interior, em território brasileiro de Aceguá agora, apreciando as paisagens que se descortinavam durante o trajeto até o Banhado da Carpintaria. Algumas espécies mais comuns foram avistadas como o Quiri- Quiri (
Falco sparverius), Ema (
Rhea americana) com filhotes e Seriema (
Cariama cristata).
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Quiri-Quiri Foto Alexandre picoli |
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Jovem Ema Foto Alexandre Picoli |
Paramos em um local onde o Caio avistou em uma outra ocasião o Arapaçu Platino (
Drymornis bridgesii). E não é que o danado estava lá! No mesmo local! Pena não ter dado muita chance pra foto. Mas vê-lo foi demais! Seguimos até um outro ponto onde ele supostamente poderia dar as caras, mas não tivemos sorte. Na natureza é assim mesmo, quando procuramos por certa espécie, e ela não aparece, ou, não da moleza pra fotos, isso
só nos deixa instigado a querer voltar em uma outra ocasião. Mas, essa mesma natureza, pode nos recompensar e ou nos presentear de uma forma diferente. Neste mesmo local onde não avistamos o Arapaçu-Platino, fotografamos o parente dele, Arapaçu de Cerrado (
Lepidocolaptes angustirostris). Um casal resolveu posar para nossas lentes. Mesmo não sendo tão famoso ( pelo menos entre nós do grupo), nos fez esquecer de seu primo platino.
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Arapaçu-de-Serrado Foto André Picoli |
Com as fotos do Arapaçu de Serrado garantidas, e com o tempo nos apertando, tocamos em frente. Entre um Pica Pau do Campo (
Colaptes campestris) e outro, alguém avisa, "Narceja empoleirada na cerca"! Pé no freio, marcha ré e poeira. " Maçarico do campo (
Bertramia longicauda)"! Grita o Caio, deu tempo de uma clicada e o bicho voou pra longe. Se assustou com o barulho da porta aberta pelo elemento que aqui vos escreve. Sorte que mais tarde, já no corredor internacional, nome dado a estrada fronteiriça no interior de Aceguá, um casal da espécie nos deixou fotografar na mesma condição.
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Marco na fronteira entre Brasil/Uruguai no corredor internacional Aceguá. Foto Gabriela Santos |
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Maçarico-do-Campo Foto André Picoli |
Chegamos então ao Banhado da Carpintaria. Foi uma doideira! Era bicho pra tudo que era lado! Clica aqui! Clica ali! Capororoca (
Coscoroba coscoroba) dando bobeira a menos de 10 metros, casal de Maçarico Real (
Theristicus caerulescens) também, Sargento (
Angasticus thilius), outro casal desta vez da espécie Viuvinha de Òculos (
Hymenops perspicillatus), Bate Bico (
Phleocryptes melanops), Sanã Parda (
Laterallus melanophaius), várias Saracuras do Banhado (
Pardirallus guinsanolentus), um Tricolino (
Pseudocolopteryx sclateri) se refrescava do intenso calor que fazia. Ficamos cerca de uma hora, o que foi um crime, esse banhado tem muito potencial, um dia seria pouco. Ali foi um dos hot-spots da saída, agradeço ao Caio ter nos dado a chance de conhecer o local. Seguimos dali pra Bagé.
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Banhado da Carpintaria Foto Morci Schmidt |
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Capororoca Foto Astor Gabriel |
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Curicaca-Real Foto Alexandre Picoli |
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Tricolino Foto Alexandre Picoli |
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Viuvinha-de-Òculos macho Foto Alexandre Picoli |
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Viuvinha-de-Òculos fêmea Foto Alexandre Picoli |
Como naquela região os pontos a serem visitados eram muitos distantes uns dos outros, como quase tudo por lá, seguimos de Bagé até a fazenda do Caio, Estancia Tarumã, cerca de 40km de distancia, onde seria nosso pouso.
Chegamos ao local um pouco antes da noite, onde já nos esperava um cordeiro assado, diga-se de passagem estava de lamber os beiços. Fomos apresentados a estancia , lugar muito bem administrado pelo nosso anfitrião e com um potencial enorme para produção de gado de corte e também o birdwatching. Aproveitando a deixa, parabenizo a administração pela ideia de produzir mas pensando no meio-ambiente, e escrever que, pensando no Sporophila que ali existe, deixou uma faixa de alguns metros próximo a barragem para que o ambiente que este bichinho aprecia fique preservado. Ainda na noite, eu e o Caio, saímos pra tentar o Jacurutu (
Bubo virginianus), que pelas redondezas estava vocalizando. Depois de pular alguns cercados, achamos o bicho em uma árvore em plena hora da janta, estava com uma presa nas garras, mas não conseguimos identificar o desafortunado.
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Assim nos sentimos na Estancia Tarumã Foto Gabriela Santos |
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Vista da frente da sede da fazenda. Foto Cleberton Bianchini |
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Jacurutu Foto Alexandre Picoli |
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Pessoal que participou da saída Foto Gabriela Santos |
Na manhã de domingo, todos em pé bem cedo. Com o café reforçado garantido, seguimos estancia adentro. Entre uma porteira e outra, encontrávamos algumas espécies como, Cochicho (Anumbius annumbi), Buraqueira (Athene cunicularia), Caminheiro de Unha Curta (Anthus furcatus), antes de chegar a barragem da fazenda. Ali ficamos pouco tempo e neste pequeno intervalo foi observado inúmeras espécies: Colhereiro (Platalea ajaja), Batuíruçu (Pluvialis dominica), Batuíra de Coleira (Charadrius collaris), bando de Talha-mares (Rynchops niger), Tachã (Chauna torquata), Curicaca Real (Theristicus caerulescens) e muitas Capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris).
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Barragem da fazenda Foto Gabriela Santos |
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Tour pela estancia Tarumã Foto Gabriela Santos |
Dali seguimos até onde os Caboclinhos de Papo Branco (Sporophila palustris) se encontravam. Outro show! Não faço ideia de quanto tempo ficamos por ali, pra mim o tempo parou dali em diante. Eles são demais! Eram 4 casais, um pequeno banhado , aquela pequena ave e uma imensa felicidade que nos proporcionaram. Complicado foi deixar o local, mas depois de certo tempo seguimos e mais adiante outros da espécie deram o ar da graça. Oh estancia abençoada!
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Banhado onde foi encontrado o Caboclinho-de-Papo-Branco Foto Gabriela Santos |
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Foto Morci Schmidt |
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Caboclinho-de-Papo-Branco Foto Alexandre Picoli |
Seguimos então em direção a sede da fazenda e passando por vários açudes, tentando algo novo, o que seria pedir demais naquela altura. Chegando na sede encontramos outras aves que por ali estavam, enquanto esperávamos o almoço como o Príncipe (
Pyrocephalus rubinus), Arredio (
Cranioleuca pyrrhophia), Pomba do Orvalho (
Patagioenas maculosa) e o Sabia do Campo (
Mimus saturninus). Almoçamos e então nos preparamos para o retorno a Bagé.
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Vista parcial da Estancia Tarumã Foto Gabriela Santos |
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Sabia-do-Campo Foto Alexandre Picoli |
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Príncipe macho Foto Alexandre Picoli |
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Arredio Foto Alexandre Picoli |
Chegamos a Chácara das Roseiras por volta das 15h, dali nos despedimos e ainda deu tempo de registrar o Tico Tico do Banhado (Danacospiza albifrons)
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Tico-Tico-do-Banhado Foto Alexandre Picoli |
Tivemos um final de semana muito intenso, com mais uma região que por causa da observação de aves, tivemos o prazer de conhecer, e com uma grande diversidade de espécies que foram observadas e ou fotografadas. Destaques para os dois Sporophilas e o Maçarico do Campo. A lista das aves observadas na Chácara das Roseiras pode ser conferida
aqui e a lista das espécies observadas na Fazenda Taruman pode ser conferida
aqui.
O agradecimento final vai para o amigo Caio Belleza, que nos recebeu e nos guiou pela bela região de Bagé de uma maneira ímpar. Região esta de paisagens de perder o folego com horizontes a perder de vista. Salvo se antes houver algum Sporophila!
Fico por aqui pessoal! Até a próxima saída que será no Parque Estadual do Tainhas em Jaquirana.
Forte abraço!
Mais um belo relatório da saída do nosso COA. Parabéns, Alexandre! Vamos em frente, ainda nos faltam alguns Sporophila...
ResponderExcluirEsses Sporophilas são demais Morci, e obrigado pelo incentivo e pela companhia.
ExcluirQue maravilha ler este relato meus amigos.
ResponderExcluirUm final de semana perfeito mesmo.
Foi uma honra recebê-los por aqui.
Sejam sempre bem vindos !!!
Abração para todos !!!
Que passarinhada espetacular. Parabéns a nosso querido Caio por proporcionar aos amigos estas belas paisagens e ótimos registros e parabéns aos amigos do Coa Vales por nos proporcionar estes belos momentos em seus compartilhamentos.
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